terça-feira, 1 de novembro de 2011

Se ainda não fomos suficientemente prejudicados desta vez, sê-lo-emos para a próxima

Já se instalou no inconsciente colectivo que somos prejudicados. A situação normal não é a de o não sermos. A situação normal é de o sermos permanentemente. Quando aparentemente o não somos, então, beneficiaram-nos. A narrativa que se constrói a partir de cada arbitragem não é mais do que a preparação da próxima. Os famosos comentadores de arbitragem, todos eles ex-árbitros do famoso período dourado do futebol nacional, cumprem esse seu papel à risca.

O programa da TVI de Domingo com o Pedro Henriques foi o exemplo mais acabado da construção dessa narrativa. A primeira imagem analisada foi a de um fora-de-jogo mal assinalado a um jogador do Feirense. A jogada é completamente inócua e o que se salienta dela é a falta de jeito do jogador para dominar a bola com a canela, tendo-a atirado para fora. Para que é que serviu esta imagem? Para demonstrar que o Feirense tinha sido prejudicado, equiparando de forma implícita esta jogada a outras verdadeiramente relevantes decididas contra o Sporting.

Depois vem o penalty sobre o Elias. O penalty é claro e há muito pouco a dizer sobre ele. Nesse tipo de jogadas, quando vão dois jogadores à bola, o que chega mais tarde acaba sempre por derrubar o adversário. O árbitro viu muito bem o lance. De outra forma, teria assinalado canto e não pontapé de baliza. Para Pedro Henriques as coisas são muito mais complicadas. Só com imagens televisivas é que vê que é penalty e a grande maioria dos árbitros, incluindo ele, não o teriam marcado.

Na expulsão do jogador do Feirense, para Pedro Henriques, trata-se de uma falta negligente e sobre um jogador que ainda tinha vários adversários pela frente. Ficámos a saber duas coisas. O qualificativo é que determina o amarelo (ninguém explica porque é negligente e não estúpida, por exemplo, ou porque sendo negligente não determina a amostragem do amarelo). Em nenhum momento se diz que o jogador do Feirense teve uma conduta anti-desportiva. É que, num contexto de uma jogada de ataque perigosa, não teve outra intenção que não fosse a de derrubar o adversário. A falta é uma simples placagem e ponto final. Por outro lado, ficámos a saber que sempre que um jogador tem adversários pela frente pode ser derrubado de qualquer forma sem que isso justifique o amarelo.

Em relação à entrada do jogador do Feirense sobre o Jéffren, o comentador comenta-se a si próprio. Não foi falta para vermelho porque quando da expulsão do Rinaudo no jogo contra o Guimarães também considerou que a falta era para amarelo. Esqueceu-se foi de nos explicar porque é que as faltas são equiparáveis e porque é que o Rinaudo foi para a rua e o jogador do Feirense não.

O comentário sobre o amarelo ao Rinaudo, então, foi risível. A falta não foi para amarelo, diz Pedro Henriques. Mas qual falta? Uma de duas: ou é falta e o Rinaudo só pode ver o amarelo; ou não é falta. O que não quis dizer Pedro Henriques foi que o árbitro errou duas vezes. Não só marcou mal um livre perigoso contra o Sporting como, não contente com isso, mostrou mal também o inevitável cartão amarelo ao Rinaudo.

Por fim, o que Pedro Henriques não viu, não quis ver ou não quis comentar, foi o sistemático anti-jogo da equipa do Feirense premiado pela arbitragem através da não amostragem de qualquer amarelo na primeira parte. O jogo foi um mau jogo, antes de mais, porque o árbitro tudo permitiu à equipa do Feirense.

9 comentários:

  1. Era interessante que os comentadores/paineleiros de gravata verde tivessem um pouco mais de genica e não deixassem passar em claro estas e outras narrativas mentirosas dos encartados do apito e não só.
    Obrigado a Rui Monteiro.

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  2. O Sporting, na pessoa de quem representa institucionalmente o clube, não pode deixar em claro o que se está a passar desde o dia em que este campeonato, uma adulteração desavergonhada, começou: o Sporting a ser roubado todas as semanas, o Porto a marcar pelo menos um golo em ilegalidade, e o Benfica a beneficiar de um tratamento que empurra os adversários para uma situação de espécie de estado vegetativo do futebol: faltas aqui, faltas acolá, cantos mal assinalados, etc.

    Eu compreendo a passividade: estamos em ano de eleições. O vencedor é tão evidente que é preciso ter cuidado para não o arreliar, não vá o dito candidato, corrupto de comportamentos, lixar - ainda mais! - o Sporting.

    Se o clube viesse de algumas épocas vitoriosas, teríamos dimensão, principalmente financeira, para enfrentar de frente este bando de corruptos, mas estamos na situação que sabemos: desesperados por vitórias, um problema clubístico, e tão endividados quanto o país, um problema financeiro.

    De resto, VIVA O SPORTING, porque o caminho, o bom, vai dar a Alvalade. O mau, o sujo, o tóxico, termina ora na Luz, ora no Dragão.

    VIVA O PARA SEMPRE GRANDE SPORTING.

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  3. Devia existir um provedor que fizesse essas mesmas questões a Pedro Henriques e outros como ele. Ele diz o que quer e ninguém contra-argumenta. Imagino se tivesses lá e lhe tivesses colocado as questões que colocas, à medida que ele ia "analisando" os lances, ou ele caía no ridículo, ou saía de lá a chorar (em directo).

    Metem nojo, e o pior é que de mentiras fazem verdade. E o que se fala é o Feirense foi prejudicado. Incrível.

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  4. Por acaso, por falar em provedores, enviei ontem de manhã um mail ao provedor do ouvinte da RDP sobre tudo o que ouvi no relato da antena 1 do Feirense-Sporting. Aguardo resposta!

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  5. Ricardo Almeida, Vila Real2 de novembro de 2011 às 11:26

    Meus amigos, existem muitas formas de contestação. Sabemos que com Oliveiras e Costas não vamos lá, assim como somos conhecedores do panorama "comentarista" português. São precisas novas formas de contestação, irónicas e cínicas, populares e de disseminação rápida no seio das onteracções sociais. Porque não usar camisolas com dizeres? Ou inundar foruns com macacadas? Ou fazer máscaras de árbitros? Ou vestirmo-nos de putas quando jogarmos com o Crime Organizado? Seria uma forma divertida e incisiva de protestar!

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  6. O primeiro parágrafo diz tudo! A realidade é só uma: no entender desta gente, o SCP se ñ for prejudicado está a ser beneficiado. Mesmo num jogo como este, no qual o SCP foi simplesmente impedido de jogar futebol...

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  7. De facto e espero enganar-me mas talvez se esteja a perpetuar um conjunto de iniciativas (de bastidores e/ou arbitragem que prejudiquem o Sporting)... Foram lamentáveis todos os comentários que se fizeram deixando nas entrelinhas que o Feirense pois prejudicado, quando quem vê com olhos de gente a televisão confirma claramente o contrário, fomos nós os prejudicados pois ficámos a haver um penalti (Elias).

    Já o Rinaudo, vê-se claramente que o querem afastar do jogo com o slbosta... É urgente que o Domingos perceba isso e o coloque no banco frente à U. Leiria... Temos de saber contornar as armadilhas que nos põem no caminho.
    SL

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  8. Isto está muito bem combinado, primeiro somos prejudicados e devíamos estar em primeiro! como começamos a meter medo a muita gente a táctica mudou somos beneficiados para compensar e dizerem que no fim tudo bateu bem igual aos benfas e porcos, como tem de disfarçar notem bem os comentários na televisão dos outros clubes, já foram todos instruidos a dizerem o Sporting é beneficiado temos de denunciar e estar atentos, deviamos ter comentadores mais eficazes com mais acção, não deixarem ou outros sequer dizerem que o sporting foi beneficiado contestarem cada lance analisado das outras equipas para que fazem um frete aos benfas e porcos

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  9. Caros leitores,

    A narrativa que se controi sobre os jogos sobrepõe-se à realidade. O Sporting foi deveras prejudicado nesta último jogo. O que se conta é o contrário. É preciso estar atento e rebater as falsas argumentações que se vão lançando.

    Não são só os nossos comentadores. O Sporting tem um departamento de comunicação que tem de tratar profissionalmente destes assuntos.

    SL

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